Rabecas no Chile
Valmir Roza Lima
Nesse ano de 2019, depois de passar pela
Argentina e participar pela terceira vez da peregrinação de Cuchillaco em
Humahuaca, desci em direção a Mendoza e atravessei o “Paso los Libertadores”,
uma das fronteiras mais bonitas da America do Sul, rumo ao Chile.
Fui convocado para construir algumas Rabecas
para uma orquestra estudantil em Valparaíso, linda cidade portuária onde tenho
alguns amigos.
Já em Humahuaca, eu estava preocupado com a
fronteira Chilena, pois passaria com ferramentas e na certa teria de pagar
alguma multa ou talvez minhas ferramentas ficassem apreendidas, e elas seriam necessárias pra eu construir as Rabecas em Valparaiso.
Na Bolívia e na Argentina, não tem muito
problema, mas a aduana Chilena é muito exigente.
Nenhuma aduana gosta que passes com
ferramentas, pois é um indicio de que vais trabalhar.
Porém apesar da preocupação, passei tranquilo com as ferramentas acomodadas estrategicamente na bagagem.
Casa de Marité
Cheguei em Valparaíso numa manhã ensolarada e
ao sair do terminal de bus ainda meio confuso num misto de alívio, cansaço e
alegria, encontrei a Avenida Pedro Mont repleta de gente, paisanos, vendedores,
senhoras apressadas e estudantes enchendo as calçadas.
Segundo o combinado com Maria Carolina, inicialmente
eu ficaria hospedado com sua mãe Maritê, até que nos encontrássemos e acertássemos
os detalhes da construção das Rabecas.
Porém, Maritê já era minha amiga, pois possui
um hostel no cerro Artilheria, onde eu e a Sandrinha já nos hospedamos a alguns
anos atrás, e pra lá eu me dirigi rapidamente.
Depois do descanso, tivemos uma pequena reunião na praça do bairro, onde ficou tudo acertado. Maria Carolina estava com obras em sua casa, portanto Maritê me hospedaria em um quarto sem custos e eu construiria as Rabecas ali mesmo num pequeno porão de sua casa.Claro que receberia pelo meu trabalho, o preço das Rabecas já estava combinado desde antes da viagem.
Nas ruas de Valparaíso se vende de tudo e foi
na rua Uruguai, famosa por seus vendedores “Callejeros” que eu comprei as ferramentas
que faltavam pra iniciar a construção das Rabecas.
Foram quatro semanas de intenso trabalho, eu me
levantava cedo, tomava chá com tortilhas e descia para o porão pra fazer
Rabecas, Eu fazia meu almoço e jantar, ou fazíamos coletivamente entre os hospedes.
Tive tempo de passear, andar pelo bairro e
fazer amizades por ali, foi um tempo muito proveitoso.
A casa de Marité é sempre cheia de viajantes,
nessa época em que estive lá, haviam muitos trabalhadores Venezuelanos, Argentinos
e até Chilenos mesmo. Sempre chegava gente nova.
Adorava passar horas conversando com Maritê
sobre as tradições e a cultura Chilena, aprendi muito com ela e sempre a terei como uma amiga querida.
Quem conhece Valparaíso sabe de seus inúmeros cerros, um mais lindo que o outro, todos muito coloridos e cheios de grafite, a cidade vive numa atmosfera artística o tempo todo, com músicos de rua em toda parte, nas praças nos ônibus e nos restaurantes, gente ensaiando dança nas praças, é uma loucura! Andar nos tróleibus ou passar as tardes sentado no porto, observando as aves também é um programão.
Meu porãozinho
Voltemos às Rabecas.
Maria Carolina Lopes Gajardo é integrante do
grupo “ Las del Puerto”, e como as outras integrantes também é professora de música.
Dirige a Orquestra Estudantil da Universidade
Federico Santa Maria e está montando uma Orquestra Latino Americana, ou seja,
uma Orquestra, com os instrumentos convencionais, agregando os instrumentos populares,
como queña, charango, bumbo, rabel e ela me pediu algumas rabecas, pois vai
fazer um naipe de Rabecas Brasileiras e Rabeles Chilenos em sua Orquestra.
Isso porque existem temas antigos que tem de
ser executados com instrumentos originais, eu achei fantástico.
Mergulhei de cabeça nesse projeto e fiz quatro
Rabecas com madeiras encontradas no porão de Maritê.
Nesse meio tempo, ainda gravei um depoimento falando
sobre Rabecas, Violas e cultura caipira pra
Fundação Margot Loyola, que é dirigida pela minha amiga Maria Eugênia
Cisternas.
Fiz uma pequena apresentação na Universidade,
visitei minha amiga Ana Flores, grande conhecedora do folclore Chileno, e
passei uma tarde, conversando e tocando com minha amiga Viviana Morales, grande
folclorista também.
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